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¯`*·.¸¸♥ღ°Quem é essa que me olha de tão longe, com olhos que foram meus?(Retrato antigo - Helena Kolody) ¯`*·.¸¸♥ღ° Quem é essa que me vê do lado de lá quando eu dela preciso cá? Quem é essa que está em mim e eu nela em hora sem fim? Quem é essa, quem sou eu?De tanta pressa o vento a levou...Fiquei eu Olho no olho O meu no seu Num retrato antigo Num estar comigo Num olhar só meu. (Janice Persuhn)¯`*·.¸¸♥ღ° De retralho em retalho tiram pedaços de mim de espaço a espaço costuram os vazios de mim de palavra a palavra descobrem eu sou mesmo assim. (Autópsia) ¯`*·.¸¸♥

PrOfeSsOrA WiLma NuNeS RaNgEl

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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Há...esse seu olhar...

Fenomenologia do olhar.

A matéria prima da visão é a imagem. Esta palavra tem origem latina, significa representação / imitação/ retrato/ representação do pensamento.
O olho está diretamente ligado ao cérebro. Há teorias que tentam provar que o olho é extensão do cérebro, ou que o cérebro se formou a partir do olho. De qualquer forma, a frontalidade dos olhos no rosto humano remete à centralidade do cérebro.
Segundo Bispo Berkeley, na obra “Nova teoria da visão”:
“Teoria da visão: o mundo tal como vemos, é uma construção, erigida lentamente por todos nós, em ano após ano de experimentação. Nossos olhos só recebem estímulos na retina que resultam nas chamadas “sensações de cor”. É a nossa mente que elabora essas sensações em percepções, que são os elementos da nossa visão consciente do mundo – fundada na experiência, no conhecimento.” (Bispo Berkeley, apud GOMBRICH, 1995, página 315)
A teoria de Berkeley, entretanto, é contestada por Gombrich com base no caráter indissolúvel da associação entre sensação e percepção:
“Embora aceitemos muito do que diz Berkeley, devemos duvidar de que tal proeza de inocente passividade seja possível à mente humana. Sempre que recebemos uma impressão visual, reagimos colocando-lhe um rótulo, arquivando-a, classificando-a de um modo ou de outro, mesmo que se trate apenas de um borrão de tinta ou de uma impressão digital. (...) Porque ver não é apenas registrar. É uma reação de todo o organismo à luz que estimula o fundo do olho. De fato, a retina foi recentemente descrita por J. J. Gibson como um órgão que não reage a estímulos luminosos individuais, tal como postulado por Berkeley, mas às suas relações ou gradientes. (...) A distinção entre a sensação e a percepção, plausível como parecia, teve de ser abandonada em face da evidência de experiências feitas com seres humanos e animais. Ninguém jamais viu uma sensação visual, nem mesmo os impressionistas, por mais engenhosamente que espreitassem sua presa.” (GOMBRICH, 1995, página 316)

Alguns teóricos, como Zamboni e Smith, dizem que primeiramente olhamos para depois chegarmos ao ato de ver. Geralmente olha-se sem ver, devido ao fato de que em nosso cotidiano não temos tempo de absorver e realizar um ato de leitura e reflexão. Como diz Zamboni:
 “O ver não diz respeito somente à questão física de um objeto ser focalizado pelo olho, o ver em sentido mais amplo requer um grau de profundidade muito maior, porque o indivíduo tem, antes de tudo, de perceber o objeto em suas relações com o sistema simbólico que lhe dá significado”. (Zamboni apud BARBOSA , 2002 , p.69)

Só conseguimos ver aquilo que nos é significativo. Isso relaciona-se ao sentido que estabelecemos entre nossas experiências e o que estamos vendo. Precisamos decodificar os signos e compreender a sua relação em um determinado contexto socio-cultural, juntamente com o conhecimento do leitor.  Enfim, o olhar de cada um possui diferenças, e estas estão ligadas às suas vivências anteriores, assim o que se vê não é o dado real e sim o que se consegue captar e interpretar como significativo. Ocorrem assim, variadas formas de olhar uma mesma situação.
“Para os Gregos e Romanos, existiam dois olhares: o receptivo e o ativo, enfim o ver por ver sem o ato intencional do olhar e o ver como resultado obtido a partir de um olhar ativo.” (BOSI, 1993)
Podemos perceber que os verbos “ver” e “olhar” são associados aleatoriamente a significados fixos. Essa questão de semântica não altera nosso estudo, o qual denominará deste ponto em diante o “olhar” como ato intencional.
O Olhar:
Do ponto de vista etimológico:
1.      Eidos ou Idea  = Forma ou figura; Video = eu vejo; Os etimologistas encontram na palavra historia (grega e latina) o mesmo étimo id, que está em eidos e idea. A história é uma visão-pensamento do que aconteceu.

Do ponto de vista literal:
2.      Ver e olhar são palavras que expressam idéias diferentes
3.      Em português: Ver = ato de registrar uma cena ou objeto; 
              Olhar: Ver com intencionalidade
4.      Em inglês: See = ver; Look = olhar
5.      Em espanhol: Ojear = ver; Mirar = olhar
6.      Em frances: Voir = ver; Regarder = Olhar
7.      Em italiano: Occhio = olho, visão; Sguardo = Olhar, olhada

Do ponto de vista metafórico:
O olhar filosófico envolve a capacidade de sentir admiração, é parecido com o olhar infantil, que é curioso e desprendido de preconceitos. “Para praticar o olhar filosófico é preciso muita paciência, e o mundo que vivemos hoje, acelerado e repleto de informações, está fazendo com que percamos essa capacidade , pois o olhar filosófico é lento, não tem pressa, pois sabe que é essencial ater-se aos detalhes” (FEITOSA, 2004)
Na Renascença o objetivo do olhar era a perspectiva, o artista deveria aprender a olhar de perto e de longe.
“O olho, janela da alma, é o principal órgão  pelo qual o entendimento pode obter a mais completa e magnífica visão dos trabalhos infinitos da natureza. Visão e entendimento estão aqui em estreitíssima relação: o olho é a mediação que conduz a alma ao mundo e traz o mundo à alma. Mas não é só o olho que vê, o entendimento, valendo-se do olho, obtém a mais completa e magnifica visão”. (BOSI, 1993)
O olhar antropológico é aquele que requer um distanciamento do objeto de estudo, não sendo influenciado pelo mesmo. Neste caso, a visão do outro é aceita sem contestação. É preciso observar ou olhar com empatia e sem preconceito.
O olhar cartesiano: “Para o código racionalista só há uma visão verdadeira, uma intuição certeira , a razão só vê o que ela mesma produz segundo seu próprio desígnio.” Ciência = um olhar que examina, analisa, compara.
O olhar como expressão: esse novo olhar é o que exprime e reconhece – fruição. Percepção do outro. Podemos citar como exemplo o dito popular "Comer com os olhos", que denota foco total de atenção para o outro, ou para um objeto, assimilando-o em sua plenitude.
“O olhar expressivo que une mente e coração, corpo e alma, olhos e mãos tornou possível o gesto da arte.”
“O ser humano é por natureza um ser criativo. No ato de perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpretar, já começa a criar. Não existe um momento de compreensão que não seja ao mesmo tempo criação. Isto se traduz na linguagem artística de uma maneira extraordinariamente simples, embora os conteúdos sejam complexos.” (Fayga Ostrower, in BOSI, 1993, página 167)
Olhar e ser olhado, atividade e passividade, exercem-se em um campo de forças onde o poder e o conhecer se fundam mutuamente. O outro é uma liberdade que pode invadir a minha; logo o outro existe. O olhar é a expressão mesma desse poder.”
“Olhar não é apenas dirigir os olhos para perceber o “real” fora de nós. É , tantas vezes, sinônimo de cuidar, zelar, guardar, ações que trazem o outro para a esfera dos cuidados do sujeito: olhar por uma criança. (...) As vezes a expressão do olhar fala por si, sem a necessidade do ato, por exemplo: Meu pai não precisava dizer nada para a gente obedecer. Bastava um olhar.” (BOSI, 1993).

Devemos ter em mente que “ver coisas opera com uma intencionalidade que não é a mesma com que se vêem pessoas.”

Outros olhares:

Contemplar é olhar religiosamente

“Nem todo olhar possui a capacidade de contemplar. E qual a atividade própria da contemplação? Lembrar. A visão cristã está na contemplação da divindade , que está no céu, no meio de nós e dentro de vós.” (BOSI, 1993)

Considerar é olhar com maravilha.

Respeitar é olhar para trás ( ou olhar de novo).

Admirar é olhar com encanto.


A educação pelo olhar: Simone Weil e a filosofia da atenção
·          Simone Weil é a filósofa da atenção: primeiro, como atividade superior da mente; depois, como princípio estratégico para lutar contra a máquina social, o platônico “Grande Animal”
·          O que significa atenção para Simone Weil? “O método para compreender os fenômenos seria: não tentar interpretá-los mas olhá-los até que jorre a luz. Em geral, método de exercer a inteligência que consiste em olhar. (...) A condição é que a atenção seja um olhar e não um apego. (WEIL, 1950, p. 388)
·          Simone era operária da Renault, e observou a divisão rígida e crescente do trabalho mecânico X intelectual / dirigido X dirigente. Ela sonhava com uma sociedade onde meios inteligentes de produção supririam a sociedade livre para o exercício da inteligência, uma “democracia socialista”
·          O texto de Bosi menciona 4 dimensões estruturais no pensamento de Simone Weil:
  • Perseverança: A atenção deve enfrentar e vencer a angústia da pressa
  • Despojamento: A atenção é uma escolha, logo uma ascese. Quem prefere, pretere. A atenção tudo sacrifica para ver e saber
  • Trabalho: a atenção é um “olhar que age”. A relativização do cartesianismo em Simone Weil se faz através da construção de uma ponte entre a consciência e a ação eficaz.
  • Contradição: “Não há contradições no imaginário. A contradição experimentada até o fundo do ser é o dilaceramento, é a cruz. Quando a atenção fixada em uma coisa revela, nesta, a contradição, produz-se algo como um descolamento. Perseverando nesta via, chega-se ao despojamento” (Sinone Weil, apud BOSI, 1993)
BIBLIOGRAFIA
  1. GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusão – O estudo da psicologia da representação Pictórica. 3° Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1995
  2. MARTINS, M. et all. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998
  3. BOSI, A. Fenomenologia do olhar. In A. Novaes (Org.), O olhar (pp. 65-87). São Paulo: Companhia das Letras, 1993
  4. BARBOSA, Ana Mae . A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo: Perspectiva, 2002.
  5. FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com Arte. Rio de Janeiro:Ediouro, 2004
  6. WEIL, S. Attente de Dieu. Paris: La Colombe, 1950

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