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¯`*·.¸¸♥ღ°Quem é essa que me olha de tão longe, com olhos que foram meus?(Retrato antigo - Helena Kolody) ¯`*·.¸¸♥ღ° Quem é essa que me vê do lado de lá quando eu dela preciso cá? Quem é essa que está em mim e eu nela em hora sem fim? Quem é essa, quem sou eu?De tanta pressa o vento a levou...Fiquei eu Olho no olho O meu no seu Num retrato antigo Num estar comigo Num olhar só meu. (Janice Persuhn)¯`*·.¸¸♥ღ° De retralho em retalho tiram pedaços de mim de espaço a espaço costuram os vazios de mim de palavra a palavra descobrem eu sou mesmo assim. (Autópsia) ¯`*·.¸¸♥

PrOfeSsOrA WiLma NuNeS RaNgEl

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Pablo Neruda e a liberdade dentro de um barco

Neruda, capitão de terra, mar e guerra

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Conhecer um poeta não é somente ler e gostar de seus poemas. Comprovei esta verdade nas visitas que fiz às casas-museus de Pablo Neruda, em Santiago do Chile, Valparaíso e El Quisco, onde estão La ChaconaLa Sabastiana e Isla Negra.

 As três residências do maior poeta chileno estão repletas de recordações. Talvez a falta de brinquedos em sua infância foi a principal razão de transformá-lo, já adulto, em um compulsivo colecionador de antiguidades. Talvez sua paixão pelo mar, marinheiro de terra firme autoconsiderado, o levou a recolher partes dos oceanos, nas conchas, âncoras, móveis, carrancas e objetos de barcos.
Comecei a perguntar: e quando esse senhor arranjava tempo para escrever? Mas se descobre, também, que ele era um escritor quase compulsivo. Em cada casa ele construiu seus santuários de escrevinhador, dois no caso de Isla Negra. 

Escreveu até mesmo em seus últimos tempos, quando a enfermidade que o atacou obrigava-o a ficar em repouso, ditando textos a Matilde e seu secretário. Fiz mais perguntas. Além de seu declarado favoritismo às políticas de esquerda, quais as atividades sociais a que se dedicava para traduzir em obras o que declarara em poesia: “La solidaridad es la ternura de los pueblos”? 

Suas casas foram construídas como refúgios, onde entravam apenas os escolhidos. Em Valparaíso, um dos critérios que estabeleceu até encontrar La Sebastiana era o da discrição – “deve ser solitária, mas não em excesso. Vizinhos, oxalá invisíveis. Não deve ver-se nem escutar-se. Original, mas não muito incômoda. Muito alada mas firme. Nem muito grande nem muito pequena. Longe de tudo, mas perto da mobilização”. Isso daria a impressão que ele, tímido também confesso, se afastava do convívio social. Sabe-se, hoje, que Neruda, enquanto ocupou cargos na diplomacia de seu país, deu relevo ao trabalho das mulheres bordadeiras de El Quisco, levando-as a expor no Museu de Belas Artes de Santiago e nas embaixadas europeias onde prestou serviços. 

Mas sua grande obra social, engatilhada pela ira poética que o dominou durante a Guerra Civil Espanhola, foi a proteção oferecida a mais de duas mil pessoas que fugiram da Espanha quando os republicanos perderam o controle do país para Franco. Naquela época, em 1939, mais de 500 mil espanhóis fugiram para a França, mas ali não encontraram ambiente ameno, pois os franceses também viviam seus problemas e temiam que a intensa migração lhes aumentasse as preocupação sociais. 

Trataram de instalar os espanhóis em campos de refugiados que, na realidade, não seriam muito diferentes dos campos de concentração mantidos pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. As noticias da derrota dos republicanos e as condições deploráveis em que viviam na França chegaram ao conhecimento de Pablo Neruda, que se encontrava no Chile, após ter dirigido a campanha eleitoral de Pedro Aguirre Cerda, eleito para o próximo período presidencial. 

O poeta, que tinha sido cônsul em Barcelona e Madri e que cultivava uma intensa paixão pela Espanha, procurou o novo presidente da nação e narrou o drama dos espanhóis. O Chile acabara de passar também por um momento terrível, causado pelo terremoto de Chillán, onde pereceram mais de 30 mil pessoas. Necessitava-se, portanto, de mão de obra e uma possível migração dos refugiados poderia ser solução social para ambas as partes. Aguirre imediatamente nomeou Neruda como Cônsul Especial, encarregado da missão de levar os espanhóis para o Chile, especialmente os que tinham habilidades profissionais das quais o país necessitava. 

Pablo Neruda seguiu imediatamente para Paris, onde tratou de organizar, com apoio dos representantes diplomáticos chilenos e do Serviço de Evacuação de Refugiados Espanhóis do governo francês, toda a logística para o transporte até o Chile. Foi comprado, então, um velho barco chamado Winnipeg, um velho cargueiro da Companhia Francesa de Navegação que havia servido para transportar tropas na Primeira Guerra Mundial. 

O barco foi adequado para receber mais de duas mil pessoas e em seus porões foram instaladas liteiras para acomodar os passageiros, além dos refeitórios e outras instalações que lhes proporcionassem um mínimo de conforto para a longa travessia. Atividades foram programadas para aproveitar os quase trinta dias de viagem, principalmente aulas para as crianças, nas quais foram transmitidas informações sobre o novo país onde viveriam. 

Feita a seleção dos migrantes, eles foram reunidos no porto fluvial de Trompeloup, perto de Bordéus. Muitas famílias ali se reencontraram, após anos de separação. Neruda e sua então esposa, Delia del Carril, se encarregaram pessoalmente de receber e inscrever os passageiros. No dial 4 de agosto de 1939 o Winnipeg zarpou rumo a Valparaíso, com 2.365 passageiros a bordo. Um mês mais tarde, ou mais exatamente, em 2 de setembro, atracou no porto chileno. Como chegou à noite, somente na manhã seguinte os passageiros puderam desembarcar. Imagina-se com que emoção e ansiedade passaram todos aquela noite, enxergando as luzes da baía de Valparaíso.

1.Combate na frente de Aragón. A Guerra Civil espanhola ocorreu entre 18 de julho de 1936 e 1º de abril de 1939 e enfrentou o governo da República Espanhola com grupos militares e de direita que terminam liderados pelo general Francisco Franco.
1. Combate na frente de Aragón. A Guerra Civil espanhola ocorreu entre 18 de julho de 1936 e 1º de abril de 1939 e enfrentou o governo da República Espanhola com grupos militares e de direita que terminam liderados pelo general Francisco Franco.
2.Soldados franquistas escoltam um grupo de soldados republicanos. O fim da contenda marcou o inicio da repressão franquista. Cerca de 500 mil refugiados cruzaram a fronteira entre a França e a Espanha no inverno de 1939.
2. Soldados franquistas escoltam um grupo de soldados republicanos. O fim da contenda marcou o inicio da repressão franquista. Cerca de 500 mil refugiados cruzaram a fronteira entre a França e a Espanha no inverno de 1939.
3.Pablo Neruda no Chile. A situação dos exiliados preocupou desde o início o poeta chileno, que se converteria em Cônsul Especial para a Emigração Espanhola e que já havia sido cônsul em Barcelona e Madrí. (Foto: Fundação Pablo Neruda).
3. Pablo Neruda no Chile. A situação dos exiliados preocupou desde o início o poeta chileno, que se converteria em Cônsul Especial para a Emigração Espanhola e que já havia sido cônsul em Barcelona e Madrí. (Foto: Fundação Pablo Neruda).
4.Imagem do presidente do Chile naquele momento, Pedro Aguirre Cerda, na coberta do Winnipeg. O velho cargueiro francês foi o barco contratado por Pablo Neruda para transportar 2.365 exilados espanhóis ao Chile. O barco foi adaptado para abrigá-los. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
4. Imagem do presidente do Chile naquele momento, Pedro Aguirre Cerda, na coberta do Winnipeg. O velho cargueiro francês foi o barco contratado por Pablo Neruda para transportar 2.365 exilados espanhóis ao Chile. O barco foi adaptado para abrigá-los. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
5.Um grupo de crianças na coberta do Winnipeg. A travessia desde o porto de Trompeloup, cerca de Bordeaux (França) até Valparaíso durou um mês. Durante esse tempo foram organizadas aulas para as crianças que viajavam no barco. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
5. Um grupo de crianças na coberta do Winnipeg. A travessia desde o porto de Trompeloup, cerca de Bordeaux (França) até Valparaíso durou um mês. Durante esse tempo foram organizadas aulas para as crianças que viajavam no barco. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
6.Vários homens desembarcam do Winnipeg em Valparaíso, Chile. No dia 3 de setembro de 1939 o barco chega às costas do território chileno. Todos os passageiros viajaram com um único passaporte coletivo. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
6. Vários homens desembarcam do Winnipeg em Valparaíso, Chile. No dia 3 de setembro de 1939 o barco chega às costas do território chileno. Todos os passageiros viajaram com um único passaporte coletivo. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
7.Grupo de mulheres que viajaram no Winnipeg. Naquele momento, Chile necessitava de mão de obra e a maioria dos passageiros do Winnipeg, por pedido expresso do presidente Aguirre Cerda, eram trabalhadores especializados, não intelectuais. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
7. Grupo de mulheres que viajaram no Winnipeg. Naquele momento, Chile necessitava de mão de obra e a maioria dos passageiros do Winnipeg, por pedido expresso do presidente Aguirre Cerda, eram trabalhadores especializados, não intelectuais. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
8.Um homem alimenta uma criança recém desembarcada. Muitos dos passageiros eram crianças. A maioria delas começou uma vida nova no Chile e nunca voltaram a viver na Espanha. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile).
8. Um homem alimenta uma criança recém desembarcada. Muitos dos passageiros eram crianças. A maioria delas começou uma vida nova no Chile e nunca voltaram a viver na Espanha. (Foto: Biblioteca Nacional do Chile). Imagens extraídas de BBC Mundo – La aventura del Winnipeg en imágenes 




























































































































































































































































Na manhã de 3 de setembro de 1939 os refugiados espanhóis do barco de Na manhã de 3 de setembro de 1939 os refugiados espanhóis do barco de Neruda desembarcaram no Chile. 

Mais tarde, um deles recordava: “As pessoas nos atiravam rosas e nos davam as boas-vindas. Nós imaginávamos que aquilo era impossível. 

Na estação de Santiago se calcula que havia 70 mil pessoas à nossa espera. Isso é algo que jamais a gente esquece”.. 
Cartaz_winnipeg











Setenta anos mais tarde, em 2009, os refugiados remanescentes e descendentes dos que viajaram no  Winnipeg fizeram várias homenagens ao poeta que os resgatou da miséria em que viviam, às portas da Segunda Guerra Mundial, que mais tristezas causaria à Europa. Foi feita uma cerimônia no Palácio de La Moneda e alguns refugiados ainda vivos foram a Isla Negra para depositar terra espanhola no túmulo de Neruda e Matilde. Dessa época final da Guerra Civil Espanhola, Neruda também fez, como Picasso com o mural “Guernica”, a sua epopéia poética, denominada “España em el Corazón”. São 23 poemas, escritos depois que Neruda deixou a Espanha, mas editados em circunstâncias insólitas na frente de batalha, como contamos adiante. (Cleto de Assis)
Descobri, por acaso, em uma estação de metrô de Santiago, um busto de Neruda, ali colocada em homenagem ao seu esforço para transportar os refugiados espanhóis.
Descobri, por acaso, em uma estação de metrô de Santiago, um busto de Neruda, ali colocado em homenagem a seu esforço para transportar os refugiados espanhóis.
Do livro, o Banco da Poesia extraiu dois poemas – Explico algunas cosas e Generales traidores.

EXPLICO ALGUNAS COSAS 







Preguntaréis: Y dónde están las lilas? Y la metafísica cubierta de amapolas? Y la lluvia que a menudo golpeaba sus palabras llenándolas de agujeros y pájaros? Os voy a contar todo lo que me pasa. Yo vivía en un barrio de Madrid, con campanas, con relojes, con árboles. Desde allí se veía el rostro seco de Castilla como un océano de cuero. Mi casa era llamada la casa de las flores, porque por todas partes estallaban geranios: era una bella casa con perros y chiquillos. Raúl, te acuerdas? Te acuerdas, Rafael? Federico, te acuerdas debajo de la tierra, te acuerdas de mi casa con balcones en donde la luz de junio ahogaba flores en tu boca? Hermano, hermano! Todo eran grandes voces, sal de mercaderías, aglomeraciones de pan palpitante, mercados de mi barrio de Argüelles con su estatua como un tintero pálido entre las merluzas: el aceite llegaba a las cucharas, un profundo latido de pies y manos llenaba las calles, metros, litros, esencia aguda de la vida, pescados hacinados, contextura de techos con sol frío en el cual la flecha se fatiga, delirante marfil fino de las patatas, tomates repetidos hasta el mar. Y una mañana todo estaba ardiendo, y una mañana las hogueras salían de la tierra devorando seres, y desde entonces fuego, pólvora desde entonces, y desde entonces sangre. Bandidos con aviones y con moros, bandidos con sortijas y duquesas, bandidos con frailes negros bendiciendo venían por el cielo a matar niños, y por las calles la sangre de los niños corría simplemente, como sangre de niños. Chacales que el chacal rechazaría, piedras que el cardo seco mordería escupiendo, víboras que las víboras odiaran! Frente a vosotros he visto la sangre de España levantarse para ahogaros en una sola ola de orgullo y de cuchillos!


EXPLICO ALGUMAS COISAS 

Perguntareis: E onde estão os lilases? E a metafísica coberta de amapolas? E a chuva que a miúdo golpeava suas palavras enchendo-as de buracos e pássaros?Vos contarei tudo o que me passa. Eu vivia em um bairro de Madrí, com sinos, com relógios, com árvores. Dali se via o rosto seco de Castilla como un oceano de couro. Minha casa era chamada a casa das flores, porque por todas as partes estalavam gerânios: era uma bela casa com cachorros e crianças. Raúl, recordas? Recordas, Rafael? Federico, recordas debaixo da terra, recordas de minha casa com balcões onde a luz de junho afogava flores em tua boca? Irmão, irmão! Tudo eram grandes vozes, sal de mercadorias, aglomerações de pão palpitante, mercados de meu bairro de Argüelles com sua estátua como um tinteiro pálido entre as merluzas: o óleo chegava às colheres, um profundo pulsar de pés e mãos enchia as ruas, metros, litros, essência aguda da vida, peixes amontoados, contextura de tetos com sol frio no qual a flecha se fadiga, delirante marfim fino das batatas, tomates repetidos até o mar. E em uma manhã tudo estava ardendo, e em uma manhã as fogueiras saíam da terra devorando seres, e desde então fogo, pólvora desde então, e desde então sangue. Bandidos com aviões e com mouros, bandidos com anéis e duquesas, bandidos com frades negros bendizendo vinham pelo céu a matar crianças, e pelas ruas o sangue das crianças corria simplesmente, como sangue de crianças. Chacais que o chacal rejeitaria, pedras que o cardo seco morderia cuspindo, víboras que as víboras odiaram! Em frente a vós eu vi o sangue de Espanha levantar-se para afogar-vos em uma só onda de orgulho e de facões!




Versões em Português de Cleto de Assis
 

MEU LIVRO SOBRE ESPANHA

Pablo Neruda
Passou o tempo. A guerra começava a perder-se. Os poetas acompanharam o povo espanhol em sua luta. Federico já havia sido assassinado em Granada. Miguel Hernández, de pastor de cabras havia se transformado em verbo militante. Com uniforme de soldado recitava seus versos na primeira linha de fogo.
Manuel Altolaguirre seguia com suas máquinas de impressão. Instalou uma em plena frente do Este, perto de Gerona, em um velho monastério. Ali foi impresso, de maneira singular, mui livro “España en el corazón”. Creio que poucos livros, na história estranha de tantos livros, teve tão curiosa gestação e destino.
Os soldados da frente aprenderão a compor os tipos de imprensa. Mas então faltou o papel. Encontraram um velho moinho, e ali decidiram fabricá-lo. Estranha mistura a que se elaborou, entre as bombas que caíam, em meio da batalha. De tudo levavam ao moinho, desde uma bandeira do inimigo até a túnica ensanguentada de um soldado morto. Apesar dos insólitos materiais e da total inexperiência dos fabricantes, o papel ficou muito bonito. Os poucos exemplares que desse livro se conservam assombram pela tipografia e pelos cadernos de misteriosa manufatura. Anos depois vi um exemplar desta edição em Washington, na Biblioteca do Congresso, colocado em uma vitrine como um dos livros mais raros de nosso tempo.
Capa da edição original de España en el corazón, da qual existem apenas seis exemplares.

Capa da edição original de España en el corazón, da qual existem apenas seis exemplares.

Postagem de https://cdeassis.wordpress.com/tag/refugiados-espanhois/


Pablo Neruda foi um poeta chileno, nascido em 1904. Ele foi um dos grandes nomes da literatura latino-americana e mundial, ganhador do prêmio Nobel em 1971. Suas obras foram traduzidas para diversos idiomas e até hoje o poeta é celebrado por causa de seus livros, como os renomados, “Canto Geral” (1950), “Memorial de Isla Negra” (1964), “Confesso que vivi” (1974), entre outros.

A história de vida de Pablo Neruda mescla sua criação literária, sua participação política em diversas esferas, sua ideologia e militância pelo socialismo e seus amores. É possível ler sobre todos esses temas em seus poemas, obviamente, mas também é possível ver as várias facetas de Neruda em seus posicionamentos, em seu modo de vida e até em suas casas. Isso mesmo! As casas desse poeta contam muito de sua história e é sobre elas que quero falar hoje.
Tive a oportunidade de visitar o Chile em 2012 e 2013. Foram visitas rápidas, por questões de trabalho, mas que felizmente me permitiram conhecer lugares muito interessantes. Entre eles, conheci duas das três casas que pertenceram a Neruda e que foram transformadas em museus. As casas estão localizadas em lugares diferentes: há uma em Santiago, a casa “La Chascona”; outra em Isla Negra; e outra em Valparaíso, a casa “La Sebastiana”. Visitei as duas primeiras e, por isso, é sobre elas que falarei um pouco mais.

“La Chascona”

“La Chascona” pode ser traduzido como “A despenteada”, ou “A descabelada”. Neruda batizou sua casa em Santigo com esse nome em homenagem a Matilde Urrutia que tinha uma vasta cabeleira ruiva. Neruda, nessa época, mantinha um relacionamento extraconjugal com Matilde e construiu essa casa para os dois viverem juntos.
A casa está localizada aos pés do Cerro San Cristóban e tinha uma vista maravilhosa das cordilheiras. Hoje em dia não há essa vista, que foi bloqueada pelas construções de outras casas e prédios na região. A casa adquiriu sua configuração final em 1958 e conta com um lindo jardim, biblioteca, vários quartos e uma cozinha. A sala de jantar, um dos lugares mais legais da casa, reproduz o formato de um navio e é impressionante como a sensação de estar ali parece mesmo com a de se estar em um navio. Também impressiona como cada cômodo da casa parece haver sido pensado de maneira individual, mas em uma perfeita sintonia com a casa inteira.  Todas as pinturas e objetos de decoração contam sobre a vida do poeta. Há muitas pinturas, de fato, inclusive uma de Matilde, feita pelo artista mexicano Diego Rivera, que era amigo de Neurda.
“La Chascona” foi praticamente destruída em 1973, após o golpe militar no Chile. Ela foi invadida pela polícia, os livros da biblioteca de Neruda foram incendiados, o jardim destruído, objetos quebrados… Um momento muito triste para a história do Chile foi também um dos momentos mais tristes da vida de Neruda, que acreditava no socialismo e foi profundamente impactado com o golpe orquestrado por Pinochet. De fato, Neruda viria a morrer 12 dias após o golpe, em 23 de setembro de 1973. A causa da morte do poeta foi polêmica por muitos anos. Ele sofria de um câncer de próstata e já estava debilitado nessa época, devido à doença. Mas muitos de seus amigos e militantes contra a ditadura afirmavam que Neruda havia sido envenenado no hospital. A polêmica só foi resolvida em 2013, com a exumação do corpo para a realização de exames toxicológicos. Apesar disso, há quem acredite que o golpe militar foi o responsável pela morte de Neruda, que não suportou ver seu país sob o comando de uma ditadura. La Chascona foi refeita depois por Matilde e atualmente é responsabilidade da Fundação Pablo Neruda.
Compartilho com vocês algumas fotos que fiz do exterior da casa. Não era (acho que ainda não é) permitido tirar fotos do interior. Mas dá para ter uma ideia pelo menos do tamanho. Quem pretende visitar a casa-museu “La Chascona”, ela fica localizada no bairro Bellavista, em Santiago.

La Chascona vista de fora


Jardim no interior da casa


La Chascona


Monumento no exterior da casa

Isla Negra
Na minha opinião a casa de Isla Negra é a mais incrível de todas. Posso parecer injusta porque não cheguei a conhecer a casa de Valparaíso, mas desconfio que é difícil ganhar de uma vista exuberante para o Pacífico, tendo a praia como quintal. O próprio Neruda dizia que essa era sua casa favorita e foi onde passou a maior parte do tempo com sua esposa Matilde. O formato da casa faz referência aos vagões de um trem, em homenagem ao pai de Neruda, que foi ferroviário. Mas, na verdade, a casa de Isla Negra demonstra todo o amor que o poeta tinha pelo mar. Não apenas por causa localização, mas também pela  forma como foi decorada.
A casa foi concluída em 1965 e possui objetos de decoração do mundo inteiro, adquiridos por Neruda em suas viagens ou presentes de seus amigos. Mas os objetos com temática marinha também ganham um destaque, perto de seus brinquedos de infância e sua coleção de conchas. Do lado de fora, há um barco e um campanário, outras demonstrações de amor de Neruda pelo mar, apesar de haver ficado sempre em terra firme. Nos jardins, atualmente, estão os túmulos de Neruda e Matilde, sua esposa, que faleceu em 1985.
Como todas as casas de Neruda, essa possui um bar muito bem montado. Durante a visita guiada ao museu, somos informados sobre curiosidades da vida cotidiana do poeta, como por exemplo, o fato de que ele gostava muito de receber amigos nesses bares, de preparar comidas e servir as bebidas em copos coloridos, porque, segundo ele, esses copos deixam a bebida mais saborosa. É incrível andar pelos cômodos da casa e imaginar a vida do poeta naquele lugar tão maravilhoso. Neruda e Matilde viveram na casa de Isla Negra por muitos anos e ficaram ali até Neruda ir em estado grave para Santiago, onde morreria poucos dias depois.
As fotos que compartilho a seguir também são do exterior da casa, pois não era permitido tirar fotos do interior.

A casa em formato de trem


Barco e campanário no exterior da casa


Túmulo de Neruda e sua esposa Matilde, no exterior da casa de Isla Negra


O “quintal” da casa

“La Sebastiana”
A casa de Neruda em Valparaíso foi a única que não tive a chance de conhecer ainda. Segundo me informei, a história é que Neruda queria descansar da agitação de Santiago e por isso comprou essa casa em Valparaíso. A casa começou a ser construída pelo espanhol Sebastián Collado (por isso o nome “La Sebastiana”), que faleceu antes de terminá-la. Neruda a comprou em 1959 e deu continuidade à construção. A inauguração foi em 1961, com uma grande festa. Depois da morte do poeta, a casa ficou abandonada até 1991, quando foi restaurada e transformada também em um museu.
Infelizmente não tenho muito o que dizer sobre essa casa, pois, como disse, foi a única que não pude visitar. Espero ter a oportunidade de conhecê-la em minha próxima visita ao Chile e com certeza contarei aqui um pouco mais sobre a casa, apesar de já saber que ela deve ser tão incrível quanto as outras.

“La Sebastiana” – Imagem da Fundación Pablo Neruda

Se vocês têm curiosidade para saber mais sobre as casas e querem fazer uma visita quando viajarem ao Chile, acessem o site da Fundación Pablo Neruda,  para encontrar mais informações sobre os horários e dias de visita.

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